terça-feira, 13 de julho de 2010

Prazeres anormais

Para os que acompanham meu blog, devem ter notado o meu fascínio por Henry Miller. Como meio de explorar mais o seu universo, decidi enveredar por outra direção e fazer uma releitura do diário de Anaïs Nin (Henry, June e eu - delírios eróticos). Frequentemente estarei postando alguns trechos do diário aqui, espero que gostem!


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PARIS, OUTUBRO DE 1931

Meu primo Eduardo veio a Louveciennes ontem. Conversamos durante seis horas. Ele chegou à conclusão a que eu chegara também: que eu preciso de uma mente mais velha, de um pai, um homem mais forte do que eu, um amante que me conduza ao amor, porque tudo o mais é uma coisa auto-criada. O ímpeto de crescer e viver intensamente é tão forte em mim que não consigo resistir a ele. Vou trabalhar, vou amar meu marido, mas vou me realizar.
(...)
Os homens que eu quis, não pude ter. Mas estou decidida a ter uma experiência quando ela se apresentar a mim.
- A sensualidade é uma força secreta em meu corpo - disse a Eduardo. - Um dia ela aparecerá, saudável e ampla. Espere um pouco.
Ou não é este o segredo do obstáculo entre nós? - de que o tipo dele é a mulher graúda, rosada, cheia, enquanto eu sempre serei a virgem-prostituta, o anjo perverso, a mulher de duas caras sinistra e santa.
(...)
Perguntei a Eduardo:
- O desejo de orgias é uma daquelas experiências que se deve ter? E uma vez vivida, pode-se superá-la, sem a volta dos mesmos desejos?
- Não - respondeu ele. - A vida de instintos liberados é composta de camadas. A primeira camada leva à segunda, a segunda à terceira e assim por diante. No final leva a prazeres anormais. - Como Hugo e eu poderíamos preservar o nosso amor nesta liberação dos instintos ele não sabia. Experiências físicas, sem as alegrias do amor, dependem de distorções e perversões para o prazer. Prazeres anormais matam o gosto pelos normais.

Anaïs Nin


Um comentário:

  1. Gostei do trecho!
    Vou procurar ler mais sobre para poder falar mais por aqui!
    :D

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