segunda-feira, 19 de julho de 2010

June é apenas imaginação



FEVEREIRO DE 1932


     Para Henry: “Talvez você não tenha percebido isso, mas pela primeira vez hoje você me chocou e tirou de um sonho. Todas as suas observações, as suas histórias de June, nunca me magoaram. Nada me magoou até você tocar na fonte do meu terror: June e a influência de Jean. Que terror eu tenho quando me lembro da conversa dela e sinto através dessa como ela é carregada com as riquezas de outros, de todos os outros que amam sua beleza.
(...)
     Compreenda-me. Eu a venero. Aceito tudo que ela é, mas ela deve SER. Só me revolto se não houver nenhuma June. Não me diga que não há June exceto a June física. Não me diga, porque você deve saber. Você viveu com ela.
     Nunca temi, até o dia de hoje, o que nossas duas mentes descobririam juntas. Mas que veneno você destilou, talvez o próprio veneno que está em você. Isto é seu terror, também? Você se sente atormentado e no entanto, iludido, por uma criação de seu próprio cérebro? É o medo ou uma ilusão que você combate com palavras cruas? Diga-me que ela não é uma bela imagem. Às vezes quando conversamos sinto que estamos tentando assimilar a realidade dela. Ela é irreal até para nós, até para você que a possuiu, e para mim, a quem ela beijou.

Anaïs Nin

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