terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Álcool (Bolero Filosófico)



À noite miro a cidade lépida Glorificada em edifícios sólidos E me confronto com a crença humana Alimentada por desejos sórdidos Resta portanto a ilusão romântica Vestindo o corpo de mulheres languidas E a redenção pela metamorfose Do iconoclasta para o tipo nobre Quem sabe um dia eu me acabo em tédio Mesmo vivendo neste alegre trópico No carnaval só restará o álcool Para afogar tal pensamento mórbido



Dj Dolores
Para o filme Tatuagem (2013)



terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Penélope

A menina tece
a veia,
o rizoma
o fruto
o sabor
a cor

pendura cordas
corta
entre tece
entristece
tecidos
urdidura

a obra definha
cada linha
cada traço
ressitua
a parte
partitura

A menina tece
a costura
(r)emenda
o rasgo
engoma
enfadonha


o marido pede

A menina trama



Dani Ribeiro

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Poema d'Adversidade ou Tudo é perigoso

penas e pernas e paus
pariu cobra grande dentro
noite a mar acontecendo
arrefecendo corpos tingidos
ungidos a urucum

curumim minguou
chorou quase nada
braçada em canoa não voa
virou riacho fundo
mundo novo engoliu
a gente da cobra

fez-se a obra do Divino monoteísta
inaugurou-se a monotonia.





Dani Ribeiro
Manaus/AM - 14/10/2015
à procura do divino maravilhoso


terça-feira, 8 de setembro de 2015

Encomenda

A caipirinha - Tarsília do Amaral

Refiz umas cartas encomendadas
uns versos melindres
uma poesia malfadada

E para você
era assim:

variava do sublime ao subliminar
sempre a desconfiar
            da imagem rarefeita
            da dança acasaladora
            do fálico na ausência
Ou o “touro indomável”

Mas se me perguntam
por onde andam
as pendências
eu digo bem, obrigada
O poema rema
segue afoito
à foice
lapidando tudo
Captando
DE CA PI TAN DO
seus versos chochos

sem graça


Dani Ribeiro

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Etiqueta



Evitar assuntos de política
e outras cousas de homem.
Recolho-me ao meu silêncio,
como de costume
à delicadeza feminina,
como de costume
o traquejo social
de costume.
O desejo contido
faísca nos olhos
quem é bom entendedor lê.
Bordar a roupa de cama
refazer o crochê mal feito
Manter a alma (que vibra) dentro do corpo
sem levantar suspeitas.



Patrícia Fonseca