No pátio a noite é sem silêncio.
E que é a noite sem silêncio?
A noite é sem silêncio e no entanto onde os sinos
Do meu Natal sem sinos?
Ah meninos sinos
De quando eu menino!
Sinos da Boa Vista e de Santo Antônio.
Sinos do Poço, do Monteiro e da Igrejinha de Boa Viagem.
Outros sinos
Sinos
Quantos sinos
No noturno pátio
Sem silêncio, ó sinos
Fe quando eu menino,
Bimbalhai meninos,
Pelos sinos (sinos
Que não ouço), os sinos de
Santa Luzia.
Manuel Bandeira
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sexta-feira, 24 de dezembro de 2010
terça-feira, 21 de dezembro de 2010
O Sofá
Um quase-luxo
Um pequeno descuido.
O assento digno do sofá
Servia obediente às bundas
Fedidas, cheirosas,
Gordas, magras
Lisas, peludas
Esculpidas ou com celulites
Da chegada à visita
Uma preguiça crônica
Um descanso do cansaço
Cabeças imbuídas de imagens televisivas
No centro do pomposo sofá
Uma mancha imperceptível
Coberta pelas nádegas
Era ele, o sofá
ora servido ao deleite dos prazeres
ora servido ao social de acomodar as bundas
Dani R. F.
sábado, 4 de dezembro de 2010
Descarrego
Ela mal sabia que descolorir os rabiscos chapiscados tornaria-a menos benevolente com seus ímpetos. Mariana desconcertava cada letra da sua estória. Estava determinada a não seguir o percurso. Entre o trabalho às seis horas da manhã, com olheiras que encobriam a suavidade do seu olhar, ela maquiava-se toda, maquiava o sorriso do bom-dia. Enfrentava pessoas e papeladas. Resolvia os problemas do trabalho que mal cabiam em sua caderneta de anotações. Esperava as horas ganharem ânimo. A sua vontade era dependente do ponteiro do relógio. Esperava.
À noite, ela desprendia-se. Já tendo conquistado sua ilusória autonomia, Mariana não encostava suas manias infantis, desarrumava sua cama com bichos de pelúcia e quarto com decoração verde-musgo. Lia um livro que costumeiramente ficava sobre a cômoda empoeirada de pensamentos frívolos e alimentava seus caprichos com uma pequena dose de vinho ou vodca. Agarrada ao seu travesseiro de infância, masturbava-se para aliviar as tensões do dia. O travesseiro infantil, tão íntimo as suas vontades, transformava-se até virar um objeto fálico. Mariana não se arrependia. Do orgasmo colossal ao cansaço físico, o seu travesseiro continuava casto como sua remota infância, mesmo com as manchas do gozo e o escurecimento devido ao excesso da fumaça de cigarro. E dia após dia, de personalidades aparentemente alternadas, uma menina com rosto de menina e com vontades de mulher, tudo variava de acordo com as exigências. Mariana só não gostava de perder a linha, apesar de ter encontrado os dois caminhos...
Dani R. F.
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